quinta-feira, 15 de abril de 2010

Globalização:Desafios na educação.

GLOBALIZAÇÃO E OS DILEMAS SOCIAIS, POLÍTICOS E AMBIENTAIS DO SÉCULO XXI.

· GLOBALIZAÇÃO NO SÉCULO XXI:

QUAL CONCEITO PARA O HISTORIADOR ERIC HOBSBAWM?

Em entrevista com o jornalista Italiano Antonio Polito, o autor propõe um novo olhar como um traço no breve século.

Para Eric Hobsbawm, as questões políticas foram um grande marco para a história, pois durante o século XVI até a década de 1960 perduraram a construção e o fortalecimento dos Estados territoriais ou Estados nacionais. No século XVII o Estado consegue soberania administrativa como afirma o autor na citação abaixo:

“[...] O Estado acumulou conhecimento, conquistou saber, alargou suas ambições e espectro de suas intervenções, e assumiu mais responsabilidades [...]”(HOBSBAWM,1999)

O Estado, agora o tem o poderio enorme em suas mãos, podendo manipular todos e quaisquer aspectos da sociedade com essa nova perspectiva econômica, política e social, ganhando assim mais independência através da dominação das leis jurídicas na administração pública. Mas, só por um tempo. Na citação abaixo isso fica bem claro. Vejamos a seguir:

[...] do ponto de vista do Estado, isso significa que antes de tudo, ele assumiu o monopólio da Lei e a transformou em Lei estatal. Depois a política tornou-se política nacional, em todas as outras formas de política foram subordinadas por delas passaram a depender. Por fim, o Estado ampliou seu campo de atividade começando com o controle do seu próprio exercito desde o século XVII, e terminando por gerenciar diretamente indústrias, e, na verdade, planejar economias inteiras, ao tal ponto que quase nada permaneceu fora do seu controle[...].(Hobsbawm,1999).

No século XIX, o Estado consegue desarmar a população e transferir para seus próprios órgãos o monopólio dos meios de coerção. Outro aspecto é o estabelecimento da democracia que, através da participação das pessoas comuns no processo político, trata-se de lealdade e da subordinação voluntária dos cidadãos ao seu governo. Essa lealdade é ao Estado e à nação e não à Elite. Aqui percebemos as primeiras participações dos cidadãos na coisa pública.

No século XX o Estado amplia sua capacidade de acompanhar o seu território e controlar de forma nunca vista antes, mantendo assim a vigilância, ou seja, o poder nos espaços públicos. Porém, um detalhe pontuado por Hobsbawm é de que em 1960 em diante alguns cidadãos não acreditavam e não respeitavam tanto quanto antes, as regras e as leis oriundas de um Estado.

No século XXI, o autor propõe como análise a seguinte afirmação:

“[...] um das grandes questões que serão colocadas pelo século XXI é da interação entre o mundo onde o Estado existe e aquele onde ele deixou de existir [...]” (HOBSBAWM,1999)

Por que hoje o Estado deixou de existir? Enfraqueceu-se após vendas das Estatais, favorecendo a política neoliberal, ou seja, a entrada livre de mercadorias e de empresas multinacionais nos territórios nacionais.

Para o autor o século XXI categoricamente afirma:

“[...] Enquanto Historiador, considero equivocada a idéia de que uma potência única, por mais e mais poderosa que seja, possa assumir o controle da política mundial [...]”(HOBSBAWM,1999)

A globalização,como conceito para o autor é um processo histórico e que reflete uma transformação incessante. Pois não para, sobretudo porque sua essência é a expansão marcada pela diversidade em termos históricos, geográficos e climáticos. A globalização não é um processo universal que atua da mesma forma em todos os campos da atividade humana, mas tem sua tendência histórica natural às áreas de tecnologia, comunicação e economia, não valendo para a política.

Sobre os dilemas o autor pontua, sublinha e reforça que os bens naturais não são para todos, são para os tem que tem dinheiro, pois os recursos são distribuídos de forma desigual. Para o mercado livre e global tudo o que importa é a soma de riquezas e não sua distribuição. Ou seja, para a globalização o fator é o tempo e a distancia, e não a economia.Expandindo aqui os dilemas mais sérios que ocorrerão no século XXI, que são as questões de falta de educação para a população retirando assim, um dos direitos sociais: a educação. E fomentando a desigualdade com o descaso com a população tendo que negociar muitas às vezes com empresas como se fosse estatais.Como veremos a seguir:

O problema não está, portanto, em saber se os governos podem controlar as corporações internacionais no interior de suas fronteiras. os problemas estão no controle global. De certo modo, quando há conflito entre as empresas globais, estes estão obrigados a negociar como se estivesse faltando com outros Estados[...].HOBSBAWM,1999)

Por fim, a cultura do acesso em termos de bens materiais, como: a quantidade de livros e discos lançados e o número de pessoas que atingem. Isso é a primeira vez que ocorre na história.

Podemos utilizar a Declaração Universal dos Diretos Humanos, para seguinte inquietação.

Temos a seguinte questão: Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 1 consta a seguinte observação:“Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”

Cabe perguntar: Qual fraternidade? E quais direitos? Será que são efetivados? Quem deve agir, o Estado?

Parafraseando o manifesto um dos mais importantes de Karl Marx, O Direito a Preguiça, de 1848, o autor enaltece a alienação do trabalhador na seguinte citação:

[...] Os preços dos produtos seguem as leis de mercado imposta pelos capitalistas e como os trabalhadores precisam de muitos desses produtos para sobreviver, passam a aceitar as piores condições de trabalho, os piores salários, a pobreza, a miséria, a fome e o frio, a doença, para terem o direito ao trabalho com o que terão salário para comprar o mínimo daquilo que eles mesmos produziram. Isso significa que os trabalhadores passam a serem dominados pelo mercado: São dominados pelo mercado do trabalho, porque se vêem obrigados a aceitar qualquer condição para trabalhar e são dominados pelo produto do trabalho, porque precisam adquiri-los a preços exorbitantes no mercado, sem se dar conta de que essas “coisas” nada mais são senão seu próprio trabalho. (LAFARGUE, 1999)

O Estado deveria promover de fato a cidadania como forma de direito na perspectiva educacional, pois tal investimento faria dessa alienação descrita por Marx um novo cidadão questionador, participativo e principalmente que garantiria de fato seus direitos para uma educação de qualidade. Como afirma Pablo Gentili:

A educação como direito social remete a inevitavelmente a um tipo de ação associada a um conjunto de direitos políticos e econômicos sem os quais a categoria de cidadania fica reduzida a uma mera formulação retórica sem conteúdo algum. Partindo de uma perspectiva democrática, a educação é um direito apenas quando existe um conjunto de instituições públicas que garantam a concretização e a materialização de tal direito [...]. (GENTILI, 1995).

A Globalização, do ponto de vista jurídico, tem em sua matriz o neoliberalismo. Para o autor dentre os pontos mais importantes o mesmo refleti aquilo que já mencionei anteriormente.

[...] a globalização é também um fenômeno cultural e ideológico, marcado pela afirmação decisiva dos aparelhos ideológicos como instrumentos de domínio por partes de produtores da ideologia dominante, a ideologia do pensamento único, ideologia da massificação dos padrões de consumo, dos padrões de felicidade, a ideologia que impõem a sociedade de consumo como paradigma de desenvolvimento, a ideologia que pretende anular as culturas e as identidades nacionais [...]. (NUNES, 2003).

Este é mais um dilema, as questões sociais, pois as pessoas comuns pagam por sua independência com os trabalhos baratos, por exemplo, em um determinado país da Ásia, as crianças e mulheres, trabalham para a empresa NIKE, produzindo ou fabricando seus tênis, aqui produto, por menos de 15 centavos a peça. Durante o dia de trabalho, as crianças deveriam estar nas escolas, mas as condições sociais (Estado) de seu país não permitem. A NIKE foi multada. Mas e as vidas, as liberdades, os direitos iguais daquelas crianças onde estão?

E para finalizar o historiador inglês nos traz em O Fim da História, um modelo de estado moderno baseado no ponto de vista de Hegel.

O Estado que emerge no fim da história é liberal na medida em que reconhece e protege, através de um sistema jurídico, o direito universal do homem à liberdade, e é democrático na medida em que somente existe como consentimento dos governados [...]. (ANDERSON,1999)

Ou seja, a história da liberdade tem seus custos e quem paga é quase sempre a grande maioria.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Por Uma Educação Mais Detalhada

“Num mundo em que á ciência se atribui a triste vocação
de organizar um novo escravismo, parece estranho a classe trabalhadora,
condenada ao sofrimento e à grosseria, reclamar pelo direito à preguiça,
ao prazer, ao conhecimento e à beleza”.
(MORAES Apud MORAIS, 1986)

Recentemente, pude apreciar, em uma experiência vivenciada na educação pública voltada para jovens e adultos, o quanto é maravilhoso empreender ações altruístas em prol de algo em que você acredita.

Na semana em que vivenciei essa nova experiência, a de dar aulas de ciências humanas, fiz um recorte sobre a cultura afrobrasileira e africana no Brasil e suas influências nos aspectos econômicos, políticos e principalmente, culturais, para a introdução do tema sugerido da semana. Pude observar a partir do que estudo no grupo de pesquisa AfroEducação como fundamentação teórica – como as leis federais 10.639/2003 e 11.645/08 –, o quanto os reflexos dessas representatividades são significativos na vida e no cotidiano de nosso povo, de nossa gente.
O texto lido por nós tinha como temática o Sistema escravista no Brasil. Tendo como suporte um caderno pedagógico elaborado especialmente para o programa.

Estava ali contida nas iconografias a representatividade da história, contado de cima, e os velhos e inacabados modelos metodológicos de ensinar e aprender. Sobretudo porque o caderno do programa sugere uma história viva, mas as necessidades do profissional e do alunado não correspondem a ambas as necessidades, ou seja, os conflitos gerados por diversos motivos, dentre eles a má formação do professor e a falta de informação e pesquisa fundamentada em teóricos que lidam com essa vertente.

Enquanto líamos, nos vi na história e fiz os alunos(as) entrarem, vivenciarem e refletirem a história de nosso povo e a construção/desconstrução desse país. O engraçado é que tratar desse tema no formato de tendência pedagógica tradicional em pleno século XXI foi e o é um desafio. Porém, não desclassificando essa tendência, é nítida a sua exposição, trazendo literalmente a ideia a que nos remetem os livros didáticos da década de 80 e 90 do século XX, com a representatividade da história contada de cima. A ideia era que os homens de pigmentação mais escura eram os trabalhadores braçais, que chegaram ao Brasil como escravos e que não deram, em absoluto, nenhuma contribuição positiva. Mentira! A primeira pergunta foi: Será mesmo? Do ponto de vista de quem? Jaime Pinsky, em seu livro A Escravidão no Brasil, diz o seguinte: “[...] trato das razões da escravidão dentro do quadro socioeconômico do capitalismo mercantil, do tráfico, da vida sexual, e da resistência oferecida pelos negros contra a escravidão [...]” (pág. 7). Partindo do pressuposto de que o educador é o mediador imediato para fazer as intervenções e, por sua vez, as esclarecendo-as para o alunado, a partir de uma fundamentação mais detalhada, assim todo tipo de resquícios será deixado e avaliado nos livros didáticos, iniciando um fomento no que diz respeito ao cotidiano desses jovens e adultos trabalhadores, proletariados como eu e você.

Quando abrimos a roda de conversa sobre o tema, percebi o quanto todos ficaram refletindo, de boca aberta, e silenciando o novo para si próprios. Porém, ainda sem saberem que foram nossos familiares africanos que construíram esse país com a arte, a cultura, a agronomia, a culinária e tantas outras formas de subsistência e resistência para a sobrevivência, a nossa negritude e nossa africanidade não está só na representação da pigmentação da pele, mas principalmente nos traços deixados por estes povos de diversos países africanos e europeus, ou seja, na memória.

(Imagens: 1) Jogar Capüera, de Rugendas; 2) Escravo tocando Berimbau, de Debret, tiradas do site Jogo de Mayanga).