quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Por Uma Educação Mais Detalhada

“Num mundo em que á ciência se atribui a triste vocação
de organizar um novo escravismo, parece estranho a classe trabalhadora,
condenada ao sofrimento e à grosseria, reclamar pelo direito à preguiça,
ao prazer, ao conhecimento e à beleza”.
(MORAES Apud MORAIS, 1986)

Recentemente, pude apreciar, em uma experiência vivenciada na educação pública voltada para jovens e adultos, o quanto é maravilhoso empreender ações altruístas em prol de algo em que você acredita.

Na semana em que vivenciei essa nova experiência, a de dar aulas de ciências humanas, fiz um recorte sobre a cultura afrobrasileira e africana no Brasil e suas influências nos aspectos econômicos, políticos e principalmente, culturais, para a introdução do tema sugerido da semana. Pude observar a partir do que estudo no grupo de pesquisa AfroEducação como fundamentação teórica – como as leis federais 10.639/2003 e 11.645/08 –, o quanto os reflexos dessas representatividades são significativos na vida e no cotidiano de nosso povo, de nossa gente.
O texto lido por nós tinha como temática o Sistema escravista no Brasil. Tendo como suporte um caderno pedagógico elaborado especialmente para o programa.

Estava ali contida nas iconografias a representatividade da história, contado de cima, e os velhos e inacabados modelos metodológicos de ensinar e aprender. Sobretudo porque o caderno do programa sugere uma história viva, mas as necessidades do profissional e do alunado não correspondem a ambas as necessidades, ou seja, os conflitos gerados por diversos motivos, dentre eles a má formação do professor e a falta de informação e pesquisa fundamentada em teóricos que lidam com essa vertente.

Enquanto líamos, nos vi na história e fiz os alunos(as) entrarem, vivenciarem e refletirem a história de nosso povo e a construção/desconstrução desse país. O engraçado é que tratar desse tema no formato de tendência pedagógica tradicional em pleno século XXI foi e o é um desafio. Porém, não desclassificando essa tendência, é nítida a sua exposição, trazendo literalmente a ideia a que nos remetem os livros didáticos da década de 80 e 90 do século XX, com a representatividade da história contada de cima. A ideia era que os homens de pigmentação mais escura eram os trabalhadores braçais, que chegaram ao Brasil como escravos e que não deram, em absoluto, nenhuma contribuição positiva. Mentira! A primeira pergunta foi: Será mesmo? Do ponto de vista de quem? Jaime Pinsky, em seu livro A Escravidão no Brasil, diz o seguinte: “[...] trato das razões da escravidão dentro do quadro socioeconômico do capitalismo mercantil, do tráfico, da vida sexual, e da resistência oferecida pelos negros contra a escravidão [...]” (pág. 7). Partindo do pressuposto de que o educador é o mediador imediato para fazer as intervenções e, por sua vez, as esclarecendo-as para o alunado, a partir de uma fundamentação mais detalhada, assim todo tipo de resquícios será deixado e avaliado nos livros didáticos, iniciando um fomento no que diz respeito ao cotidiano desses jovens e adultos trabalhadores, proletariados como eu e você.

Quando abrimos a roda de conversa sobre o tema, percebi o quanto todos ficaram refletindo, de boca aberta, e silenciando o novo para si próprios. Porém, ainda sem saberem que foram nossos familiares africanos que construíram esse país com a arte, a cultura, a agronomia, a culinária e tantas outras formas de subsistência e resistência para a sobrevivência, a nossa negritude e nossa africanidade não está só na representação da pigmentação da pele, mas principalmente nos traços deixados por estes povos de diversos países africanos e europeus, ou seja, na memória.

(Imagens: 1) Jogar Capüera, de Rugendas; 2) Escravo tocando Berimbau, de Debret, tiradas do site Jogo de Mayanga).